Na realidade da ciência e análise política, há estratégias que, mesmo sendo uma decisão contra intuitiva, a priori, tendem a reduzir os danos a longo prazo. Nesse sentido, para pensar adiante (prever), é preciso fazer uma indução retroativa, usando informações anteriores para mapear uma sequência de ações que tendem a acontecer. Se, antes da sua jogada, for realizada uma análise das decisões dos jogadores anteriores, sua tática poderá ser melhor pensada.
Assim, comportamento estratégico leva em consideração todo o processo de decisão, podendo exigir dos indivíduos escolhas não ideais ou menos preferidas a curto prazo para que, no fim, assegure resultados superiores. Nessa ocasião ocorre o voto sofisticado, quando o jogador vota contra suas preferências com o objetivo de gerar um resultado melhor caso votasse favorável.
O voto útil, muitas vezes mencionado na política brasileira atualmente, é uma estratégia semelhante, na qual o eleitor abre mão de refletir sua opinião sincera sobre o candidato que considera ideal para diminuir a força e competitividade de um competidor que considera ainda pior.
O Voto Útil em 2018
É possível dizer que o voto útil teve grande intensidade nas eleições presidenciais em 2018, levando em consideração que o antipetismo estava acentuado e o candidato que melhor soube angariar votos com base nesse sentimento de parte relevante da população foi o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). No jornal Valor Econômico, Consentino faz a seguinte análise:
“No Brasil, nas eleições presidenciais de 2018, o voto útil também marcou terreno. Mas, segundo observa Consentino, há um movimento contrário ao que ocorre agora. “Na ocasião, votos de centro-direita migraram para o Bolsonaro com medo da volta do PT. Foi um movimento que desidratou candidatos do centro”, aponta.
O que vemos agora, Consentino acrescenta, “é uma narrativa para liquidar a fatura para a esquerda logo no primeiro turno para evitar a continuidade do bolsonarismo”.
O Voto Útil no Cenário Atual
Nas eleições de 2022, o cenário do voto útil tende a se encaixar em ambos os lados da disputa polarizada.
Por um lado, aqueles eleitores que se encontram no centro, centro-esquerda ou extrema esquerda podem abrir mão de votar em candidatos que consideram ideal como Ciro Gomes (PDT), Leonardo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB). Por outro lado, aqueles eleitores que também se encontram no centro, centro-direita ou extrema direita abrem mão de votos em candidatos como Soraya Thronicke (União), Simone Tebet (MDB) e Felipe D’Ávila (Novo).
É importante ressaltar que grande parte dos eleitores que declaram votos em candidatos mais ao centro político se dividem no segundo turno, que provavelmente contaria com Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Logo, há um forte peso caso esses políticos que não foram vitoriosos no primeiro turno apoie um dos lados no segundo.
O principal resultado da guinada para o voto útil nas últimas semanas é a redução de intenção de votos de Ciro Gomes (PDT) na pesquisa do Ipec, que acusa o aumento de 1% nas intenções de votos para o candidato Lula (PT).
Mesmo diante disso, o diretor do Instituto de Opinião, Arilton Freres declarou ao Correio Braziliense:
Para o sociólogo e diretor do Instituto Opinião, “só será possível saber se o voto útil vai mesmo se concretizar na última semana antes das eleições. Ele considera que, mesmo com oscilações, Ciro tem mantido uma margem resiliente nas pesquisas”.
Simone Tebet fez críticas ao voto útil durante uma entrevista em Salvador, na Bahia:
“Essa é uma eleição de dois turnos, não é uma eleição de um turno só. Então a gente tem de saber que não é uma corrida de cem metros. Agora é a hora de o eleitor escolher aquele que, de acordo com sua consciência, é o melhor para o Brasil”.
A “Terceira Via”
O voto útil tem sido uma estratégia para angariar votos ao Lula durante o primeiro turno, e Ciro e Tebet buscam fazer uma campanha forte contra essa teoria. A disputa não é equilibrada, principalmente considerando o fator polarização, logo, dificilmente essa estratégia terá um resultado relevante capaz de alterar os dois mais cotados nas pesquisas.
Mesmo assim, a porcentagem de votos contabilizadas no primeiro turno é uma moeda importante de negociação para apoio no segundo turno e implementação de planos de interesse dos candidatos não vitoriosos que obtiveram um número relevante de apoiadores.
Graduando em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB) e Presidente da Strategos Consultoria Política Jr.
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