O debate presidencial é um dos principais momentos em que é possível confrontar diretamente ideias, soluções, planos de governo e a postura dos candidatos ao longo da campanha. Nesse sentido, muitas vezes quem está ali pode ser abordado de forma desprevenida e demonstrar fraqueza, insegurança, ou fazer alguma declaração altamente prejudicial para própria campanha. Ademais, nem sempre os projetos de governo são abordados e ataques pessoais são feitos com uma certa frequência. O objetivo desse artigo é ver a relevância dessas estratégias de debate para o público e como fazer uma avaliação mais pragmática a respeito das declarações daqueles que participam.
O que é retórica e oratória?
Via de regra, entende-se oratória como a arte de falar em público, transmitindo eficientemente uma mensagem. Por outro lado, visando sempre a persuasão, a retórica não se limita à fala. O pensador Agostinho de Hipona, por exemplo, demonstra nas suas capacidades retóricas através da escrita.
Enquanto retórica designa, para nós, a arte de dissertar bem, oralmente ou não, de maneira eloquente e precisa, com capacidade de convencer, a oratória significa falar em público.
Na Grécia antiga, por muito tempo, a Retórica foi amplamente estudada pelos sofistas. Para eles, essa arte não tinha a necessidade de se relacionar com a defesa de argumentos em prol da verdade. Já para Platão, a Retórica nem sequer deveria ser considerada uma arte. Nesse sentido, a persuasão obtida por meio dela é uma mera forma de manipulação. Por fim, para Aristóteles, a Retórica é uma arte “neutra”, que pode ser utilizada tanto para justiça quanto para injustiça
E você, o que pensa sobre a defesa de argumentos?
A Dialética Erística
Para o pensador Arthur Schopenhauer, autor do livro “A Arte de Ter Razão: 38 Estratégias para Vencer Qualquer Debate”, o verdadeiro objeto da dialética, outro termo associado a defesa de argumentos, é o estudo dos instrumentos de discurso para ter sempre razão, independentemente do meio adotado “per faz et per nefas” ou da forma com que os contendores agem no discurso “pro ara et focis”.
Assim, a dialética dos candidatos pode mostrar o quanto são bons em debate, mas não necessariamente suas qualidades como gestores e governadores da nação. Esse ponto merece alta atenção principalmente ao escolher o candidato que pretende votar.
Para dar um pequeno norte sobre a arte de ter razão, aqui serão apresentadas algumas estratégias de argumentação para vencer um debate que está presente no livro de Arthur Schopenhauer:
Ad Hominem
No Ad Hominem, o debatedor não se preocupa com o argumento do adversário. Ao invés disso, aponta-se algo negativo no oponente em si. Se atacarem a persona, sua vida, ao invés dos seus argumentos, a viabilidade de refutação é mais restrita já que o objeto em debate tenta ser alterado.
Como exemplo, durante o último debate presidencial, quando o ex-presidente Lula (PT) aborda a questão do Coronavírus, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), em resposta, o chama de “ex-presidiário”, praticando o Ad Hominem.
IMAGEM DO DEBATE NA TV CULTURA
Semelhante a essa estratégia argumentativa, é comum a categorização do debatedor para dar uma característica odiosa. Sem entrar no mérito de avaliação, o atual presidente é um dos principais que recebem esse tipo de “ataque”, associando ao Fascismo, Nazismo, Machismo, Racismo, Misoginia, entre outros…
Por último, em grande parte dos debates políticos brasileiros, quando um governo é criticado, há termos comuns como: “mas e o PT?” ou “mas e o Bolsonaro?”. Esse tipo de estratégia tem relação com as anteriores no sentido de mudar o objeto de debate para não responder diretamente a acusação feita.
Persuadir a Plateia
Essa tática tende a depender, obviamente, de um público assistindo o debate. Ademais, envolve mais as emoções do público do que a argumentação de fato. Arrancar risadas da plateia por meio de brincadeiras e ironias tendem a funcionar, até mesmo na televisão. Nessa perspectiva, grande parte da plateia está a busca de um espetáculo, e não de um embate entre argumentos e propostas, necessariamente.
Como exemplo há a interação entre os políticos Paulo Maluf e Leonel Brizola:
DISCUSSÃO ENTRE BRIZOLA E PAULO MALUF NA TV BANDEIRANTES
Outro exemplo, que mostrou não precisar, necessariamente de um público, foi do debate do presidente Jair Bolsonaro no Roda Viva em 2018.
Apelo à Autoridade
Essa estratégia é auto explicativa, na qual o debatedor fala sobre suas experiências, carreira, diploma, entre outras formas para tornar seu argumento ainda mais válido perante o público. O candidato Ciro Gomes (PDT) utiliza dessa tática com frequência, expondo sua experiência na atuação política. Como exemplo, no vídeo publicado por Ciro Gomes no Youtube, o mesmo aborda sobre o desempenho histórico do Ceará na educação, ressaltando que foi parte desse progresso.
Falácia do Espantalho
Essa estratégia pode ser considerada uma das mais danosas, principalmente em discussões ao vivo. Nessa falácia, tenta-se distorcer o argumento adversário. Assim, a ideia do orador atingido é desvirtuada de forma a ser combatida com facilidade. Um exemplo recente foi num debate promovido pelo influenciador digital Rogério Vilela entre os candidatos à Câmara dos Deputados pelo estado de São Paulo Tabata Amaral (PSB/SP) e Ricardo Salles (PL/SP). Na ocasião, Ricardo Salles distorceu a fala de Tabata Amaral ao afirmar que a deputada defendeu que todos os deputados da base governista receberem 500 milhões de reais em emenda parlamentar do Orçamento Secreto, sendo que a deputada afirmou ser apenas os líderes do governo. A diferença pode ser sutil (ou não), mas se o espectador não tem a oportunidade de rememorar o que foi dito, tem eficiência.
DEBATE NO CANAL “INTELIGÊNCIA LTDA”
Conclusão
Diante da explicação de alguns conceitos filosóficos sobre debates e alguns exemplos sobre estratégias argumentativas, um exercício interessante é assistir alguns vídeos que isso ocorre e notar que essas táticas são utilizadas com mais frequência do que as pessoas imaginam. Portanto, é recomendável assistir ao debate de hoje, 29, atento sobre o que de fato é um discurso pleno e resposta direta, ou apenas uma estratégia para sair de provocações e perguntas desconfortáveis.
Graduando em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB) e Presidente da Strategos Consultoria Política Jr.
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