Um dos partidos mais importantes da Nova República está mergulhado em uma crise e isto preocupa muitos de seus membros. O momento conturbado do PSDB vem chamando a atenção e os cenários projetados para a legenda são desfavoráveis.
Nos últimos anos a sigla vem perdendo força não só em seus redutos tradicionais, mas também no âmbito nacional. Exemplo disto é o enfraquecimento do partido no estado de São Paulo, onde venceu sete eleições seguidas desde 1994, entretanto, o último governo tucano tem sido mal avaliado pelos eleitores e as pesquisas indicam que não haverá um candidato psdbista competitivo nas próximas eleições para o Palácio dos Bandeirantes.
Soma-se a isto o fato de que, a despeito de estar presente em todos os segundos turnos das eleições presidenciais desde 1994, o partido não foi bem na última disputa e ocupou apenas a quarta posição com os 4,76% de Geralda Alckmin.
O mesmo Alckmin que governou São Paulo por quatro oportunidades e que disputou o segundo turno das eleições presidenciais de 2006. Talvez por isto ele tenha decidido deixar o partido, visto que, segundo as suas próprias palavras, era o momento de mudança.
No caso de Alckmin, a mudança foi se desfiliar do PSDB e se juntar ao PSB, para formar uma eventual chapa com o ex-presidente Lula, com quem disputou o segundo turno das eleições de 2006. A troca de partido indica que o posicionamento de Alckmin não condiz mais com os valores políticos psdbistas. Resta saber se quem mais mudou foi o ex-tucano ou o PSDB.
Outra figura importante do partido que teceu críticas contundentes à legenda foi o ex-deputado, ex-senador e ex-ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. Ele levantou a possibilidade de o PSDB estar vivendo uma fase terminal, por não conseguir mais ser competitivo nacionalmente e pelas disputas internas.
De acordo com a avaliação de Nunes, o partido não consegue estabelecer uma linha política a ser seguida por seus membros e, portanto, não pôde consolidar um posicionamento durante o governo de Jair Bolsonaro.
Além disso, a legenda passa por um conflito interno de grande repercussão entre os membros. Trata-se das prévias presidenciais que ocorreram no partido.
Os integrantes do PSDB tiveram que escolher entre João Doria (SP), Eduardo Leite (RS) e Arthur Virgílio (AM). A campanha foi conturbada e o partido acabou se dividindo entre os que apoiavam Doria e os que apoiavam Leite. O ex-governador de São Paulo venceu com 53.99% dos votos e foi indicado como pré-candidato ao Planalto.
Mesmo com a decisão tomada pela sigla, Leite não deixou de se colocar como uma possibilidade para disputar a Presidência da República e teve apoio de uma ala do partido. Outro grupo não viu com bons olhos a atitude, por entender que Doria havia sido escolhido democraticamente pelos tucanos e, portanto, deveria ser o pré-candidato.
De modo geral, sendo o PSDB um importante partido da Nova República, a sua crise indica uma mudança nas composições partidárias do Brasil. Siglas do centro e do centro-direita que antes eram menores passaram a ocupar um maior espaço político e outras que eram maiores no passado, como o próprio PSDB, estão perdendo forças.
Esse tipo de mudança aponta também para uma alteração no perfil dos próprios políticos que representam o eleitorado brasileiro. É importante acompanhar as próximas eleições para ver os desdobramentos desses fatos.
Historiador e Graduando em Ciência Política pela Universidade de Brasília.