O Movimento Brasil Livre possui diversos membros em todo Brasil. Os principais são Kim Kataguiri (Deputado Federal pelo DEM), Fernando Holiday (Vereador de São Paulo pelo NOVO), Artur do Val (Deputado Estadual pelo PODEMOS), Renan Santos e Alexandre Santos. Esse grupo ficou conhecido pela participação nas manifestações a favor do Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, utilizando as mídias sociais. O objetivo desse artigo é expor a origem desse grupo, seu melhor momento, e o declínio.
Vale ressaltar que, na história do Brasil, são raros os casos que um grupo auto identificado com a direita política conseguir mobilizar protestos nas ruas com um grande número de pessoas, como ocorreu em 2015 e 2016. Esses repertórios de confronto político são historicamente ligados a grupos identificados com a Esquerda política.
A Origem do MBL
O movimento foi oficializado em 2014, mas em 2015 tomou maior forma e discurso, quando a ex-presidente Dilma Rousseff passava por grandes impasses políticos e de aprovação pública. A operação lava-jato foi um dos principais fatores para esse levante popular, envolvendo o poder executivo e a Petrobras em esquemas de corrupção.
O principal grupo responsável por incentivar essas manifestações contra o poder executivo em 2015 era justamente o grupo criado por cinco jovens, que começaram fazendo publicações na internet em prol do “estado mínimo”, entre outras pautas ultraliberais. Ainda em 2015, em um Congresso realizado pelo MBL, foram propostas em cartas algumas mudanças no modelo político brasileiro: fim do voto obrigatório; sistema parlamentar inspirado no modelo alemão; fim da reeleição; mandato de cinco anos para o Executivo; privatização de todos os bancos; adoção da economia de mercado na Constituição, fim da função social da propriedade e fim da imunidade parlamentar e do foro privilegiado.
“O MBL integrou a vanguarda dos grupos que levaram o povo às ruas em favor do impeachment. É consenso que Dilma não seria hoje presidente afastada, para o bem do Brasil, se o grande protesto do dia 13 de março deste ano tivesse dado com os burros n’água. Mas não deu. E os jumentos tiveram de voltar a pastar. […] Que bom que o movimento passou a trabalhar com os partidos políticos. Os movimentos de oposição ao PT nunca souberam se organizar direito. Enquanto as esquerdas transformam suas minorias barulhentas em vozes influentes, a maioria, sempre silenciosa, era vencida por sua desorganização” – REVISTA VEJA
Os ataques incessantes ao PT por meio das redes sociais, associados ou não às Fake News, mostraram o novo modelo de ativismo político que tomaria força nas eleições: o ciberativismo. E perante esse modelo, o MBL e outros movimentos se destacaram e tiveram forte impacto na opinião popular a respeito do impeachment de Dilma Rousseff, um dos principais objetivos desse movimento liberal.
Outros movimentos que foram criados e adotaram a postura de publicações em massa nas redes sociais são Mídia Ninja e Vem Pra Rua.
MBL e Jair Bolsonaro
Após a derrubada da ex-presidente Dilma do poder, o MBL entrou rumo ao apoio de Jair Bolsonaro (PL), um político do baixo clero na época:
“Concordamos muito com o Bolsonaro em diversas coisas: revogação do estatuto do desarmamento, redução da maioridade penal… Concordamos em diversas pautas. Inclusive quando ele falou mal da CLT, eu quase soltei fogos na minha casa. Quando ele fala em criar leis antiterroristas que atinjam o MST, eu acho que é um ato de extrema coragem. Eu acho uma palhaçada quando começam a chamá-lo de racista e homofóbico” – ARTHUR DO VAL – CONGRESSO DO MBL
Apesar do discurso do deputado estadual Arthur do Val (sem partido), a principal aposta do MBL em Bolsonaro era no plano econômico, o qual era marcado pelo ultraliberalismo de Paulo Guedes.
No entanto, com o passar dos meses após a eleição, o presidente da república teve problemas para governar seguindo o tipo de modelo que desconsiderava a necessidade de negociar com os partidos políticos e a importância técnica de muitas pastas. Diante disso, algumas reformas e propostas governistas foram travadas ou impedidas. Ademais, brigas internas com ministros (Sérgio Moro e Mandetta), entre ministros e parlamentares (Abraham Weintraub e Paulo Guedes), e polêmicas desnecessárias apresentadas pelo próprio presidente tornaram a aliança insustentável para o MBL.
Ao longo desse período, o MBL percebeu que o presidente da república não considerava mais a responsabilidade fiscal e o “estado mínimo” uma prioridade do governo (há quem diga que nunca foi considerado). Assim, o Movimento Brasil Livre se afastou da figura do poder executivo e iniciou uma série de críticas ao presidente, que havia negociado com partidos do centrão para garantir governabilidade e aprovação de projetos essenciais para o apoio da população. Uma possível justificativa para o fim dessa aliança é a aproximação de Jair Bolsonaro com esses partidos que possuem congressistas investigados por corrupção, um tema mencionado com frequência pelo MBL.
Desde a segunda metade de 2021, o MBL faz passeatas contra o presidente e protocola pedidos de Impeachment. A contradição é inegável, o que cabe ao leitor tirar a própria conclusão é se o Movimento Brasil Livre se aproveitou da guinada bolsonarista sabendo que os ideais não eram, de fato, semelhantes, ou foram “traídos” após a eleição do presidente da república.
Como dito anteriormente, o MBL era um grupo que apoiava fortemente a Operação Lava-Jato e pautas anticorrupção, a qual teve um Juiz de grande relevância e popularidade: Sérgio Moro. Diante disso, o MBL, associando a necessidade de uma outra opção à direita do espectro político e ao antigo apoio do grupo ao ex-juiz, o presidenciável do PODEMOS deu aval positivo para uma possível aliança.
MBL em Crise
A Crise mais recente no MBL foi relacionada à ida de um dos membros mais conhecidos do movimento para a Ucrânia. Segundo a instituição, o objetivo era ajudar na guerra, arrecadando fundos e fabricando coquetéis molotov em defesa do país que é alvo de ataques da Rússia.
No entanto, após uma “brincadeira” com os amigos nas redes sociais, um áudio do deputado estadual Arthur do Val (sem partido), também conhecido como “Mamãe Falei”, foi vazado. O conteúdo era extremamente machista e gerou uma repercussão relevante, ocasionando na desfiliação do deputado do partido Podemos e o afastamento do MBL.
Ademais, a pré-candidatura ao governo de São Paulo também foi retirada e Sérgio Moro busca se afastar da imagem do deputado. Vale ressaltar que esse não é o fim do MBL, mas as repercussões foram intensas e muitas manobras terão que ser feitas para que o dano seja minimizado.
Não é vedada a chance do retorno do MBL como um forte influenciador digital nas disputas eleitorais de 2022, assim como a presença de outros movimentos com alta ramificação dentro das redes. Cabe, assim, compreender em que direção esses grupos vão e quais candidatos farão as melhores propostas, sabendo que a associação pode gerar frutos, como foi a parceria MBL e Bolsonaro nas eleições de 2018, ou uma pedra no sapato, como a ligação entre o MBL e Sérgio Moro, levando em consideração que o pré-candidato já enfrenta problemas para angariar votos.
Graduando em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB)