Um dos assuntos mais polêmicos tratados nas últimas duas semanas foi a prisão do ex-ministro da educação Milton Ribeiro, suspeito de estar envolvido no caso da Operação Acesso Pago. Nessa operação foi identificada uma possível troca de propina por verbas públicas dentro do Ministério da Educação. Essa verba era negociada por dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura durante a gestão de Milton Ribeiro na pasta. A polêmica foi uma das mais preocupantes para o Governo Federal por dois motivos: a proximidade com as eleições e a impossibilidade de colocar o combate à corrupção em primeiro plano ao longo da campanha eleitoral. Diante disso, o propósito deste artigo é fazer uma análise sobre os resultados práticos desse escândalo e se podemos ter ainda mais surpresas.
O Escândalo
Segundo as descobertas da investigação, os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos influenciavam a respeito da destinação dos recursos do ministério, intermediando encontros com autoridades subnacionais mesmo não possuindo cargo na pasta. No dia 22 de março, o jornal “Folha de São Paulo” divulgou a seguinte gravação de uma conversa de Milton Ribeiro com prefeitos:
“A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, afirmou. Em troca da liberação facilitada, as prefeituras deveriam apoiar a construção de igrejas nos municípios. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”.
No dia seguinte, o Estadão divulgou uma reportagem contendo o testemunho do prefeito da cidade de Luís Domingues (MA). Gilberto Braga (PSDB) afirmou o adiantamento de 15 mil reais e o pagamento de um quilo de ouro após a liberação dos recursos para construção de escolas e creches.
No dia 5 de abril, a Comissão de Educação do Senado ouviu o depoimento de três prefeitos sobre a suspeita de favorecimento indevido no Ministério da Educação.
“O Arilton perguntou: ‘Você sabe muito bem como funciona, né? O Brasil é muito grande, não dá para ajudar todos os municípios. Mas eu consigo te ajudar com uma escola profissionalizante. Eu faço um ofício agora, chamo a Nely, você assina um ofício, coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da igreja evangélica’”, relatou o prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza (PP).
Assim, após alguns meses de investigação, no dia 22 de junho, a Polícia Federal prendeu preventivamente o ex-ministro que foi solto após a solicitação de um habeas corpus.
Repercussão
Após o escândalo de corrupção evidenciado e ainda mais popularizado com a prisão do ex-ministro, pode ser que os idealistas da campanha do atual presidente repensem ao colocar o combate à corrupção como pauta primária na disputa. Após a situação piorar, o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) mudou seu discurso:
“No governo, não temos nenhuma corrupção endêmica. Tem casos isolados que pipocam e a gente busca solução para isso”
PALESTRA A EMPRESÁRIOS EM EVENTO DA CNI
Um fator agravante nessa perspectiva foi a suspeita do envolvimento do presidente no vazamento de informações da investigação ao próprio Milton Ribeiro, algo que pode ser utilizado na CPI que já coletou assinaturas o suficiente para ser aberta no Senado Federal.
Isso mesmo, uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) está por vir em um dos momentos mais inapropriados para um governo que busca sua reeleição.
O principal senador que ficou encarregado da coleta de assinaturas foi Randolfe Rodrigues (REDE/AP). Assim, com as assinaturas suficientes, o presidente do Senado Federal, Sen. Rodrigo Pacheco (PSD/MG), afirmou que:
“A intenção é essa. Tomarmos a decisão da Presidência em relação a todos os requerimentos pendentes de decisão, submeter aos líderes numa reunião de líderes específica para esse tema e na sequência do que for a decisão dos líderes, fazer a leitura de todos esses requerimentos no plenário”.
ENTREVISTA DO PRESIDENTE DO SENADO
A reunião de líderes está prevista para o dia 05 de julho, terça-feira.
Conclusão
Mesmo que o escândalo de propina envolvendo repasses de verbas do Ministério da Educação tenha sido exposto, não é certo que uma parcela do eleitorado do presidente mude sua opinião, principalmente sobre os mais cotados para o segundo turno: Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). No entanto, a depender do impacto da CPI quando for instalada, os danos podem ser irreparáveis e, quiçá, custar a eleição presidencial.
Graduando em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB) e Presidente da Strategos Consultoria Política Jr.
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