A recente notícia de compra da plataforma Twitter pelo homem mais rico do mundo mobilizou muitos olhares. Diante disso, para aqueles que acham que política não está em todo lugar, esse artigo tem o objetivo de mostrar o quanto a política pode estar mais ligada do que parece a essa temática. Assim, serão expostas algumas promessas do empresário Elon Musk que podem afetar as interações políticas dentro da mídia social e algumas de suas opiniões relacionadas às decisões polêmicas tomadas pela plataforma antes da compra do bilionário.
Uma das grandes polêmicas relacionadas ao Twitter foi o banimento do ex-presidente Donald Trump da plataforma após uma multidão insuflada pelo Republicano a invadir o Capitólio durante a confirmação da vitória do atual presidente democrata Joe Biden. Após a decisão, Trump criticou a plataforma, afirmando que está indo longe em “banir a liberdade de expressão”. E Elon Musk também teve algumas oportunidades de criticar a falta de liberdade de expressão dentro da plataforma, algo que desperta interesse e comemoração das alas bolsonaristas em relação a compra da mídia social. A seguir, serão pontuadas algumas questões que Elon Musk afirmou que podem ser implementadas dentro da plataforma sob seu comando, e a quem interessa essas atitudes.
Fim dos Robôs e a Verificação
Sydney Sanches, presidente do Instituto de Advogados Brasileiros, destaca como positiva a compra do Twitter por Elon Musk. Isso ocorre pelas promessas relacionadas a “abertura” do algoritmo do Twitter, o monitoramento de contas falsas e o banimento de robôs. Essas questões estão relacionadas a uma possível tentativa de garantir ao Twitter uma maior liberdade de expressão sem ser a própria plataforma responsável jurídica pela propagação. Diante disso, a estratégia é garantir a verificação dos usuários e suas publicações, para que os próprios sejam responsabilizados caso hajam problemas com a justiça, seja por mensagens de ódio ou ameaça. Ademais, o propósito seria também impedir a criação de robôs e contas fake que manipulam o algoritmo do Twitter, promovendo divulgações de conteúdos específicos e do interesse do emissor que burla o sistema.
Apesar de Elon Musk afirmar que o Twitter deveria garantir mais liberdade de expressão para os usuários, algo que agrada a ala da extrema direita (ou extrema esquerda em determinadas ocasiões), a tentativa de fiscalização e autenticação dos usuários podem fazer com que pensem melhor antes de tomar uma decisão. Dessa maneira, politicamente, mesmo com a mudança de política no Twitter, a plataforma não seja a principal utilizada nas eleições, ou pelo menos não utilizada pelos extremos políticos.
Vale ressaltar que, apesar da compra, Donald Trump afirmou que não pretende retornar a plataforma. Essa afirmação foi motivada após alguns famosos, como o Senador Flávio Bolsonaro, pedirem a retirada do banimento do ex-presidente republicano.
Abertura dos Algoritmos
Uma outra promessa levantada por Elon Musk é a abertura dos códigos fonte e algoritmos utilizados pela plataforma. Diante dessa afirmação, cabe pesar se isso pode ser concretizado sem grandes danos financeiros e práticos no Twitter. O primeiro cálculo a ser feito é o que garantiria a não cópia desses algoritmos por concorrentes, de forma a competir de forma ainda mais munida com a rede social recém adquirida pelo bilionário.
Em segundo lugar, vale ressaltar que, apesar do pensamento positivo, ou talvez das boas intenções de Elon Musk, o fato do algoritmo e código fonte serem abertos pode permitir que grandes interessados procurem brechas para burlar e cumprir seus desejos individuais, a despeito de um desempenho igualitário.
Repercussões no Exterior
Logo após o anúncio da venda do Twitter, a União Europeia fez questão de avisar ao bilionário que a plataforma terá que cumprir novas leis do bloco que restringem o poder de grandes plataformas digitais em definir como lidam com a moderação de conteúdo e o banimento de usuários. Segundo o comissário da UE para o mercado interno:
“Seja em relação a assédio on-line, venda de produtos falsificados (…) pornografia infantil, ou incentivos a atos de terrorismo (…) O Twitter terá que se adaptar aos nossos regulamentos europeus, que não existem nos Estados Unidos”
Repercussões no Brasil
Assim como o atual presidente da república, Jair Bolsonaro (PL), outros aliados como a deputada Carla Zambelli (PL/SP) e Bia Kicis (PL/DF), registraram um aumento de seguidores fora do padrão nas contas do Twitter, a maioria com características típicas de robôs ou bots.
O Crescimento coincide diretamente com o anúncio da compra da rede social pelo bilionário Elon Musk. Diante disso, o Congresso em Foco solicitou à plataforma Bot Sentinel uma análise de cinco contas de aliados fortes bolsonaristas para checar quantos desses perfis eram reais. Assim, a rede concluiu que 67,4% do total são de contas consideradas não autênticas, ou robôs.
Segundo o criador do Bot Sentinel:
“Esse foi um movimento muito incomum. Todas essas contas foram criadas a partir do dia 25 e não apresentam nenhuma atividade”.
TWITTER DO CRIADOR DO BOT SENTINEL
As contas analisadas foram da ex-ministra Damares Alves, do ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas, do General Heleno e dos congressistas Flávio Bolsonaro e Carla Zambelli.
Após a alta de seguidores, o próprio Senador Flávio Bolsonaro buscou inferir que o Twitter o prejudicava, após mostrar que houve o aumento de seguidores em sua conta e de seus aliados com a compra da plataforma:
Conclusão
Apesar do aumento do número de seguidores em algumas contas de bolsonaristas, a pesquisa desenvolvida pela Bot Sentinel realmente coloca em xeque o que de fato está ocorrendo na plataforma e qual seria a melhor maneira de evitar tal problemática. O número de seguidores, curtidas, retweets e comentários tendem a influenciar o alcance das publicações dos usuários, e a utilização de robôs é um método de burlar para atingir um maior eleitorado.
Cabe agora monitorar os passos que o Twitter fará com o novo dono. Se, por um lado, Elon Musk busca maior liberdade de expressão, por outro cogita a implementação da verificação e autenticação de usuários, o que pode retirar muitos robôs de circulação. Outras perguntas ainda podem ser feitas como: Como isso será feito? E caso seja, os bolsonaristas iriam abandonar a rede social e migrar para outra mais flexível?
Graduando em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB) e Presidente da Strategos Consultoria Política Jr.