Existem Primárias no Brasil?
No atual cenário polarizado na política, em que as pesquisas mostram uma disputa direta entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Lula (PT) no segundo turno, partidos como PSDB, PDT e PSD estão buscando viabilizar alternativas políticas fora do eixo já conhecido. Essa terceira opção, chamada popularmente de terceira via, ainda não possui um nome específico, então muitos partidos buscam viabilizar o próprio candidato eleitoralmente para que outros apoiem e consiga uma chance de alcançar o segundo colocado nas pesquisas, o atual presidente da república. À vista disso, o PSDB, conhecido por disputar muitas eleições contra o PT antes do surgimento do bolsonarismo, vive sérios problemas com a perda de espaço político à direita para outros partidos, como o PSL, e brigas internas, dificultando sua consolidação como possível terceira via. Nesse contexto, com muitas dificuldades, para disputar a eleição presidencial, o Partido da Social Democracia Brasileira escolhe o seu candidato por meio das primárias, ou prévias eleitorais, diferente da indicação política direta que ocorre na maioria dos partidos.
Esse tipo de estratégia é comum e atrai todos os holofotes nos Estados Unidos. Assim, antes da ampla disputa entre candidatos republicanos e democratas, há uma etapa caracterizada por estabelecer quem será o candidato para disputar a eleição presidencial em determinado partido. Portanto, há uma eleição interna no partido político que apresenta uma sequência de candidatos que poderão representar a sigla na eleição majoritária.
Sistema Eleitoral do PSDB
Diferente dos outros partidos relevantes no cenário brasileiro, o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) apresenta a realização de primárias no Estatuto Partidário, competindo aos Diretórios Nacional, Estadual e Municipal baixar resoluções necessárias à regulamentação dessas prévias eleitorais. Assim, muitas perguntas podem vir pela apresentação deste modelo diferenciado no Brasil: Isso é importante? Quem vota nas prévias eleitorais? Quem ganha? Dória ou Eduardo leite?
Nesse sentido, para fazer uma análise política, é necessário entender melhor como funcionam as eleições primárias do Partido, isto é, seus eleitores, os pesos do voto, a mídia e as alianças políticas.
A primeira característica das eleições prévias peessedebistas é a divisão do eleitorado em quatro grupos votantes: os filiados (I); os prefeitos e vice-prefeitos (II); os vereadores e deputados estaduais/distritais (III); e os Governadores, vice-governadores, ex-presidentes, senadores, deputados federais e o atual presidente da Comissão Executiva Nacional (CEN) do PSDB (IV).
O segundo fator para ser analisado é o peso de cada um dos grupos. Os grupos I, II e IV são mais simples, basta dividir o número de votos que o candidato teve pelo total de eleitores do grupo e multiplicar por 25%. Já o grupo III é dividido em dois subgrupos, os deputados e os vereadores. Assim, respeitando a proporcionalidade, o cálculo é a divisão dos votos atribuídos aos candidatos pelo total de eleitores do subgrupo e multiplicar por 12,5%. Por fim, basta somar o resultado dos dois subgrupos para obter o resultado total do grupo III.
Grupos I, II, e IV
Grupo III
A matemática é um pouco complexa, mas o principal ponto é a participação política que os filiados e políticos do PSDB possuem para escolherem o seu candidato para presidência, algo que pode destacar perante outros partidos.
Por fim, o resultado eleitoral é definido como a soma dos resultados de cada um dos grupos. Quando nenhum dos candidatos conquista a maioria absoluta, há segundo turno.
João Dória (SP) e Eduardo Leite (RS)
A disputa que está gerando grande repercussão na mídia mostra a visibilidade que grandes personagens estão buscando para terem chance de ultrapassar o segundo colocado nas pesquisas eleitorais de 2022, o atual presidente Jair Bolsonaro. Diante disso, três participantes estão na fronte para representar o PSDB: João Dória, Eduardo Leite e o, menos cotado, Arthur Virgílio Neto, ex-prefeito de Manaus. O senador Tasso Jereissati chegou a se candidatar, mas desistiu da corrida eleitoral para apoiar o governador Eduardo Leite.
Para entender melhor essa disputa acirrada e delicada, cabe mostrar quem são os dois protagonistas, quais pontos possuem favoravelmente e possíveis problemas a serem enfrentados.
O governador de São Paulo João Dória é filiado ao PSDB desde 2001 e possui longa carreira política pelo estado. Em 2016, Dória se candidatou às prévias para disputar a prefeitura de São Paulo contra Adrea Matarazzo e Ricardo Tripoli. Nesse contexto, um dos fatores decisivos foi o apoio do ex-governador Geraldo Alckmin a sua candidatura que, posteriormente, foi consolidada como prefeito em uma eleição histórica de apenas um turno.
Em 2018, quando o prefeito se candidatou para o Governo do estado de São Paulo, começaram algumas divergências de Dória com integrantes do próprio partido que influenciam até hoje algumas movimentações políticas. Após o avanço do peessedebista ao segundo turno, João Dória iniciou sua guinada ao apoio de Jair Bolsonaro para a presidência da república, gerando o apelido “BolsoDória”, o que gerou críticas vinda de seu padrinho político Geraldo Alkmin que também havia se candidatado para a presidência da república.
Outras inimizades foram feitas ao longo do mandato do governador paulista, como a briga entre João Dória e Aécio neves e divergências com o atual presidente do PSDB. No entanto, Dória acumula vantagens com o desempenho da vanguarda na produção e distribuição da CoronaVac pelo estado de São Paulo, considerando uma vitória do político, além de ser uma oposição declarada e amplamente divulgada do presidente da república, que se encontra com baixa taxa de aprovação nas últimas pesquisas.
Do outro lado da disputa, o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite é ex-prefeito de Pelotas e pouco conhecido fora do estado comparado ao seu concorrente. O gaúcho vem defendendo uma agenda de privatizações e concessões para equilibrar as contas do estado, um fator que pode vir a atrair os movimentos liberais no âmbito nacional.
Outro ponto favorável é sua baixa taxa de rejeição, que pode ser justificada pela menor expressão nacional. No entanto, esse dado é importante, principalmente numa corrida presidencial. Ademais, um ponto que merece é o fato do governador assumir publicamente sua orientação sexual homossexual, algo que mobilizou apoio de muitos políticos brasileiros após a declaração.
Uma previsão clara para o resultado das prévias do PSDB é limitada, isso tendo em vista que ¼ dos votos dependem da inscrição dos filiados do PSDB no aplicativo de celular para a votação digital. A localização dos filiados têm influência, tendo em vista que São Paulo é uma região mais próxima do governador Dória e Rio Grande do Sul de Eduardo Leite, no entanto, há outros estados-chave que possuem outras influências, como a influência de Aécio Neves em Minas Gerais e Tasso Jereissati no Ceará.
Graduando em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB).
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