É importante ressaltar que o ataque às urnas eletrônicas e outros mecanismos de mensurar os votos continuam sendo questionados por parte relevante da população brasileira. Entre esses mecanismos está a pesquisa de opinião eleitoral, ferramenta criticada com relevância por muitos eleitores, muitas vezes, por motivos controversos. Assim, o objetivo deste texto é mostrar quais são os argumentos levantados pelos críticos e mostrar suas limitações.
Antes de tudo é preciso marcar uma afirmativa importante para a leitura do texto: a pesquisa de opinião eleitoral não é uma antecipação dos votos. Diferente do que a maioria pensa, a pesquisa de opinião eleitoral não funciona como um mapeamento certeiro de como será a votação no dia da eleição. Sendo assim, algumas perguntas são levantadas. Então qual a função das pesquisas? Por que “erraram” em 2018? As pesquisas não foram forjadas de forma a manipular a opinião pública?
O que é Pesquisa de Opinião Eleitoral?
A pesquisa eleitoral é a indagação feita ao eleitor, em um determinado momento, sobre a sua opção a respeito dos candidatos que concorrem a uma determinada eleição. Nesse modelo, todas as entidades e empresas que almejam realizar a partir do dia 1º de janeiro do ano da disputa devem fazer um registro ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até 5 dias antes da divulgação, das informações indicadas no artigo 33 da Lei nº 9.504/97.
- Quem contratou;
- Valor e origem dos recursos do financiamento;
- Metodologia e período da realização da pesquisa;
- Plano amostral e ponderação quanto ao sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a ser executado, intervalo de confiança e de erro;
- Sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo;
- Questionário completo aplicado ou a ser aplicado;
- Nome de quem pagou pela realização do trabalho e cópia da respectiva nota fiscal.
Vale lembrar que a divulgação de pesquisa fraudulenta é crime. Ademais, o TSE permite que todos os partidos possam ter acesso ao sistema de fiscalização durante trinta dias.
Como é feita a pesquisa de opinião eleitoral?
Para entender o processo de execução de uma pesquisa eleitoral, a compreensão de alguns termos é essencial, como Universo, Amostra, Margem de Erro e Intervalo de Confiança.
Antes de explicar cada um deles, vale ressaltar que o trabalho estatístico é muito mais complexo que um artigo político publicado em redes sociais. O objetivo então é simplificar o que é feito com inúmeros cálculos e pesquisas para reconhecer o método ideal para aplicação da pesquisa, feita principalmente por meio do cálculo amostral.
Para que uma estimativa da amostra represente da maneira mais próxima possível a opinião do universo, é necessário entrevistar aleatoriamente uma parte dele que corresponda proporcionalmente. Isso significa que as pessoas escolhidas para compor a amostra são levadas em consideração com base em fatores que representam o universo. Na prática, se no grupo total há 15% de pessoas com 23 anos, a entrevista da amostra aleatória deve contar 15% de pessoas com a mesma idade. Esses fatores tendem a ser idade, gênero, escolaridade, distribuição de renda, localidade, entre outros aspectos que podem influenciar diretamente o voto.
Para tornar mais didático, vamos utilizar uma pesquisa feita em agosto de 2018.
Então, após entrevistada a amostra, que costuma variar de 2 a 4 mil pessoas, se 39% votam no candidato Lula, isso pode valer da mesma proporção ao todo, isto é, 39% do universo.
Vale lembrar que alguns erros podem ser inerentes a metodologia da pesquisa, e para isso existe a margem de erro. Como um exemplo, se a pesquisa publicada declara que 19% das pessoas irão votar no candidato Jair Bolsonaro, e que a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais e para menos, então, na prática, o percentual de votos pode variar entre 17% (dois pontos para baixo) e 21% (dois pontos para cima).
Para finalizar o vocabulário estatístico, há um mecanismo para declarar o grau de confiabilidade da pesquisa eleitoral. Esse método é chamado de Intervalo de Confiança. Isso mostra que, se o intervalo é de 95%, caso a entrevista seja aplicada incontáveis vezes, 95% delas marcariam a intenção correta de voto durante a execução da pesquisa.
Observando na Prática
Com o passar dos anos, as instituições estatísticas que elaboram as pesquisas de opinião eleitoral estão perdendo crédito. Isso ocorre pelos “erros” cada vez mais recorrentes ao longo das eleições. Nesse contexto, há dois tipos de problemas.
A primeira problemática é o reducionismo de grande parte dos críticos das pesquisas eleitorais ao afirmar que todas são fraudulentas. Nessa perspectiva, quando se faz isso, o crítico desvaloriza o trabalho extremamente árduo de cálculos feitos por vários estatísticos baseados na ciência. Por mais que isso pareça prolixo, o senso comum nem sempre conclui que a estatística aplicada também é uma disciplina desenvolvida com séculos de pesquisa e experimentos.
A segunda é que esse tipo de fala irredutível impede o crítico de compreender o porquê as pesquisas estão deixando de representar a realidade como representavam anos atrás. Assim, a principal tese dos analistas e cientistas políticos é a do poder e velocidade das informações.
Antigamente, para que uma informação espalhasse era necessário mais tempo do que hoje. Logo, a opinião pública volatiliza cada vez mais com base na frequência e rapidez que as informações espalham, isto é, a opinião pública ainda continua em constante mudança, só que cada vez mais rápido. Desde um pronunciamento atraente até uma fake news são capazes de acabar com meses de campanha e, obviamente, alterar o voto de um eleitor.
Graduando em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB).