Nos últimos meses muito tem se falado sobre o aumento nos preços dos produtos consumidos pela população, entre eles, os que mais chamam a atenção são os dos alimentos, bebidas, transportes e saúde. Os preços são medidos pelos índices de inflação, especialmente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o qual avalia a inflação de serviços e produtos que são comercializados no varejo e consumidos pelas famílias.
Na prática, quando a inflação se eleva, a capacidade de consumo das famílias diminui, isto devido ao fato de que seus respectivos rendimentos não aumentam na mesma proporção. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA do mês de abril marcou 1,06% e o acumulado dos últimos 12 meses chegou a 12,13%.
No gráfico abaixo é possível notar como tem sido o comportamento deste índice durante todos os meses desde a implementação do Plano Real, em julho de 1994:
Nota-se que existe uma certa estabilidade do indicador e que ele oscilou pouco durante os anos de vigência do atual plano econômico. Apesar disso, o que tem chamado a atenção é a elevação do patamar da oscilação desde outubro de 2020. A partir deste período, a curva apresenta uma tendência de alta e isto começa a preocupar especialistas, pois ainda é incerto dizer se haverá uma estabilização do índice ou se continuará a crescer nos próximos meses.
Uma maneira de conter a elevação dos preços é aumentando a taxa básica de juros, a Selic, a qual é a responsável por influenciar as demais taxas de juros praticadas por instituições financeiras no Brasil. Ela é definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
A seguir é possível ver como se deu a variação da taxa Selic nos últimos 10 anos (entre maio de 2012 e maio de 2022):
O gráfico demonstra que a Selic vem tendo um aumento acentuado desde maio de 2021, quando marcava o menor valor da série histórica (2%) e gradativamente atingiu um elevado patamar (12,75%). Agora, está se aproximando do ponto mais elevado da série (14,5%). Não se sabe até quanto o Banco Central pretende aumentar a taxa, mas o fato é que a inflação não está retrocedendo.
Como dito no início deste artigo, os preços que tiveram maior elevação estão relacionados a produtos e serviços relativos às necessidades básicas das famílias (alimentação, bebidas, transporte e educação). Sendo assim, o comprometimento da renda dessas famílias torna-se inevitável, visto que não é possível deixar de consumir os bens citados.
Além disso, alguns desses itens podem afetar tanto de maneira direta, bem como de modo indireto o consumo das famílias. Um exemplo disto são os preços dos transportes, mais especificamente dos combustíveis, que têm sido os maiores responsáveis pelo crescimento do IPCA, já que um eventual aumento de preços compromete o índice de maneira direta (quando as famílias compram os combustíveis nos postos) ou de maneira indireta (quando os combustíveis são utilizados na produção e transporte dos bens adquiridos pelas famílias).
Isso quer dizer que uma medida para a contenção da inflação terá de tratar também dos preços dos combustíveis. Aqui, sem fazer referência a uma possível mudança na política de preços, mas uma reforma tributária e/ou o subsídio para o consumo destes bens podem entrar em pauta.
Mais informações:
Historiador e graduando em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB).