O ano de 2009 trouxe uma importante mudança para as relações comerciais brasileiras. Em meio à crise que assolava os países centrais desde 2008, a China assumiu o posto de principal parceiro comercial do país, desbancando os Estados Unidos de uma posição ocupada confortavelmente por praticamente 100 anos.
Contribuiu para esse resultado não apenas a forte crise econômica vivenciada pelos Estados Unidos, mas também as impressionantes taxas de crescimento chinesas. Conforme pode ser visto no gráfico abaixo (figura 1), o produto interno bruto (PIB) chinês vem crescendo tão rapidamente que a expectativa é que ele alcance o dos EUA nos próximos anos.
Quem esperava que o crescimento econômico da China sofresse um revés com a pandemia de COVID 19 foi surpreendido quando o Dow Jones Newswires anunciou a taxa recorde de crescimento chinês neste primeiro semestre de 2021: 18,3%.
Figura 1 – Comparativo entre o PIB americano (em verde) e o PIB chinês (em azul) – Período de 1960 a 2019.
Fonte: World Bank, 2021.
Quanto ao comércio mundial, a pandemia expôs a grande dependência dos países em relação às manufaturas chinesas. Embora tenha havido um discurso de redução dessa dependência por parte de algumas lideranças mundiais, os números demonstram que, desde então, o gigante asiático ampliou sua fatia no comércio internacional.
Conforme vem sendo noticiado por jornais especializados¹, o número de mercadorias nas quais a China possui uma parcela generosa do mercado global está crescendo. A pandemia impulsionou o comércio de produtos como computadores de pequeno porte, telas de cristal líquido e smartphones. A procura por esses produtos aumentou enormemente nos últimos meses, com as pessoas em casa. Os produtos chineses foram, em grande medida, os responsáveis por atenderem a essa demanda.
Dados recentes evidenciam que a China atingiu nos últimos tempos um patamar mais elevado de participação no comércio global do que o que ela possuía antes do início da guerra comercial com os Estados Unidos, com a chegada de Donald Trump ao poder, em 2017.
As relações econômicas entre Brasil e China
No que diz respeito às relações de investimento e comércio entre Brasil e China, apesar dos altos e baixos do relacionamento político nos últimos tempos, o fluxo comercial não parece ter sido abalado.
A figura 2 abaixo é um excelente retrato das relações comerciais entre os dois países durante o ano de 2020. Como pode ser observado, no ano passado, a China tornou-se o primeiro país a romper o teto histórico de US$ 100 bilhões em corrente de comércio (exportação+importação) com o Brasil, totalizando US$ 102.566.
Outro recorde quebrado foi o valor total de exportações brasileiras para a China: US$67.788, 7% maior do que em 2019.
Dessa forma, o gigante asiático vem se consolidando cada vez mais como principal destino das exportações brasileiras e também como a principal origem dos produtos importados pelo Brasil. Vale destacar que, diferentemente do que ocorria com outros parceiros históricos brasileiros, o Brasil tem um considerável superávit comercial com a China.
Figura 2 – Quadro síntese das relações comerciais Brasil-China (2020).
Fonte: SECEX, 2021.
A figura 3 abaixo mostra também que as exportações brasileiras para a China (representadas pelas barras verdes) vêm aumentando muito mais do que as importações de produtos chineses pelo Brasil (barras azuis), sendo que nesses primeiros meses de 2021 já foram estabelecidos novos recordes.
Figura 3 – Quadro síntese das exportações-importações Brasil-China (2010-jul 2021).
Fonte: SECEX, 2021.
Apesar desse crescente superávit, chama a atenção a diferença na distribuição de produtos na cartela de exportação e importação Brasil-China. Enquanto a pauta dos produtos exportados pelo Brasil concentra-se em apenas alguns itens, a relação de itens importados da China é bastante diversificada.
No caso do Brasil, apenas 3 itens correspondem a 75% do total dos produtos exportados pelo país para a China. São eles: soja, minérios de ferro e seus concentrados e óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, crus. A distribuição pode ser vista na figura 4 a seguir.
Figura 4 – Produtos exportados Brasil-China (2020).
Fonte: SECEX, 2021.
Já no caso dos produtos chineses importados pelo Brasil, alguns produtos se destacam, como equipamentos de telecomunicações, incluindo peças e acessórios, válvulas e tubos termiônicas e plataformas, embarcações e outras estruturas flutuantes. No entanto, esses itens não alcançam nem 25% do total da pauta, sendo ainda seguidos de muitos outros itens com percentuais baixos.
Esses números, assim como os tipos de produtos, demonstram uma significativa variação nos padrões de importação-exportação entre os dois países.
Figura 5 – Produtos importados Brasil-China (2020).
Fonte: SECEX, 2021.
Por último, no que diz respeito ao investimento, o último relatório disponibilizado pelo Centro de Estudos Brasil-China, lançado em 2019, divide os fluxos dos investimentos chineses no Brasil em quatro etapas.
A primeira, até 2010, foi marcada pelo interesse das companhias chinesas no setor de commodities com o objetivo de suprir a crescente demanda do país por artigos como petróleo, minérios e soja. Na segunda, que durou até 2013, os fluxos de investimento foram direcionados principalmente à área industrial, com ênfase na busca de mercado consumidor.
Na sequência, a terceira fase mostrou um maior fluxo de investimentos no setor de serviços, com grande participação dos bancos chineses. A quarta fase, que dura até hoje, teria se iniciado em 2014, quando passou a haver fluxos intensos de investimento nas áreas de energia elétrica e infraestrutura. Outras áreas identificadas foram as de óleo e gás, agronegócio e tecnologia.
¹ Ver https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/11/30/china-amplia-fatia-no-comercio-global-apesar-de-disputa-com-os-eua.ghtml.
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