O mais recente episódio de “Tira ministro, deixa ministro”, desta vez protagonizado por Luiz Henrique Mandetta, revelou um sentimento um tanto contraditório, até então não vivenciado por Jair Bolsonaro em sua trajetória como capitão ministerial: o ciúme.
A cobertura da crise do coronavírus pela grande imprensa brasileira – essa, sim, inimiga número um do presidente -, diante de um grave problema de saúde, inevitavelmente direcionou os holofotes à maior autoridade da… Saúde. Embora a firmeza de Mandetta no sentido de acolher as recomendações da OMS contra a pandemia não tenha sido uma constante, o ministro floresceu fora do nicho bolsonarista por uma postura relativamente técnica e alguma conformidade com a ciência, à qual já estávamos desacostumados.
A relação entre o Ministério da Saúde de Mandetta e os “urubus” da “extrema imprensa” tem demonstrado-se amistosa o suficiente para produzir comentários como o de que tem gente “se achando”. E o que incrementa história é o surgimento de um tímido, porém desesperado #FicaMandetta aliado ao #ForaBolsonaro, orquestrado com utensílios de cozinha, aos moldes de 2016.
O desprestígio presidencial em relação ao trabalho do então ministro da Saúde fica evidente nos perfis da família Bolsonaro no Twitter, onde um dos filhos, o de número 3, sente-se livre até para desmentir supostas brigas.
O resultado da busca pela palavra ministro em publicações das contas oculta desavenças, mas escancara a indiferença: apenas duas publicações de Jair Bolsonaro referem-se a Mandetta – somente uma foi publicada após o início da pandemia.
Como em todo relacionamento, crises de força maior podem retardar e até evitar rompimentos, mas deixam danos irreparáveis. Resta saber quem serão os maiores prejudicados dessa trama.
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Naiara Marques de Albuquerque
Integrante da Metapolítica, mestre em Comunicação Institucional e Política pela Universidade de Servilha (Espanha), jornalista pela UnB.