A crise gerada pelo novo Coronavírus (Sars-Cov-2) promete ser sem precedentes na história econômica mundial. Em avaliação do cenário macroeconômico nacional, o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), órgão ligado à Fundação Getúlio Vargas (FGV), definiu em boletim que a crise do coronavírus será “o maior desafio mundial desde a Segunda Guerra Mundial” (FGV/IBRE, 2020). Apesar do tom forte da frase poder ser taxado como alarmista, é possível traduzir essa preocupação de maneira objetiva, com dados e projeções de futuro da economia brasileira e mundial. Adianto: as perspectivas de futuro levam a crer que o IBRE está correto.
A título exemplificativo, um levantamento realizado pela consultoria norte-americana de relações públicas, Hamilton Place Strategies (HPS), reforça o cenário aqui ilustrado. O volume de gastos em relação ao PIB que o governo norte-americano destinou para o combate ao Covid-19, já se aproxima do patamar de alocação de recursos realizado para a Segunda Guerra Mundial. Nem mesmo a crise do Subprime, em 2008, teve impacto parecido em tão pouco tempo. Basta dizer que o presidente norte-americano, Donald Trump, promulgou no dia 27 de março o maior pacote de estímulo econômico da história, algo da ordem de 2 trilhões de dólares, o equivalente a 10,2 trilhões de reais em valor corrente. Trata-se de uma injeção econômica maior que todo o PIB brasileiro em 2019, o qual chegou a totalizar 7,3 trilhões de reais no referido ano. Vejamos o gráfico:
O que mais chama atenção neste panorama é que todo esse esforço se dá em pouco mais de 3 meses de crise. As medidas de quarentena e distanciamento social adotadas para conter o avanço da infecção desmobilizam todo o núcleo produtivo dos países, mas ainda que amargas, essas são, neste momento, as únicas ferramentas capazes de conter efetivamente a Covid-19 e de dirimir os efeitos de uma catástrofe sanitária em todo o mundo. Nesse ponto, é possível afirmar que o coronavírus infecta não apenas pessoas, mas também ataca de maneira central a lógica de circulação do capital moderno. O patamar histórico de pedidos de auxílio desemprego nos EUA reforça esse panorama; vejamos:
A projeção pouco animadora da maior economia do mundo, pode servir como um indicativo importante da profundidade da crise e dos desafios que o Brasil deverá enfrentar neste ano. Em evento realizado com representantes do mercado financeiro, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, fez uma projeção macroeconômica atualizada e articulada com o cenário externo. Entre os principais dados, pode-se destacar o seguinte:
Diferentemente da projeção da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, o cenário de recessão apresentado por Roberto Campos Neto é muito mais profundo. A nota informativa da SPE que revisava o impacto do coronavírus no crescimento do PIB nacional, indicava um cenário de retração de um patamar de 2,1% para 0,0%, mas com a possibilidade de retomada do crescimento ainda no quarto trimestre deste ano. Como se observa na projeção do Banco Central, a retração será muito mais violenta, da ordem de -5,5%.
Somado a este quadro, o mercado acionário brasileiro experimentou no início do ano uma forte fuga de capitais, da ordem 44,718 bilhões de reais, valor superior ao saldo negativo de 44,517 bilhões de reais correspondentes a todo o ano de 2019, o que percentualmente pode ser analisado no gráfico que segue:
Também vale destacar o processo de deterioração do valor do real em comparação ao dólar. O valor da moeda brasileira passou o patamar dos 5 reais em relação à moeda americana, o que pode gerar mais à frente uma pressão inflacionária num cenário recessivo. O desemprego, de acordo com os dados da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, apesar de ter apresentado um leve recuo de 0,8% em janeiro de 2020, ainda se encontra no patamar de 11,2%. A informalidade, em paralelo, é expressivo e persistente, da ordem de 41,1% a nível nacional, o que afeta de maneira direta a renda e a capacidade de consumo familiar.
Sendo assi,, pela forma como a crise tem se estruturado, é muito mais provável que o Banco Central esteja apontando para projeções mais realistas do que aquelas apontadas pelo Ministério da Economia até a presente data.
Os dados são alarmantes e as projeções de futuro não devem ser diferentes. Os desafios para 2020 são imensos e sem precedentes na história recente do Brasil e do mundo. É inegável, nessas condições, que 2020 será marcado pelo maior esforço econômico, político e humanitário para contenção de uma crise mundial desde o final da Segunda Grande Guerra.
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REFERÊNCIAS:
Banco Central do Brasil. “Atualização do Cenário Macroeconômico”, 04 de abril de 2020.
Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas. “Boletim Macro”, março de 2020.
Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia. “Panorama Macroeconômico – Março de 2020”.
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Arthur Ives
Integrante da Metapolítica, bacharel e mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), atualmente é doutorando em Sociologia Política por essa mesma instituição. Atua no monitoramento e na formulação de estratégias de atuação junto ao Poder Legislativo.