A necessidade de trabalhar foi o principal motivo de evasão escolar em 2019. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua, IBGE)¹ divulgados no último dia 15 chamam atenção para a urgência de políticas públicas que incentivem a permanência dos jovens na escola.
De um total de 50 milhões de brasileiros com idade entre 14 e 29 anos, 10,1 milhões (20,2%) sequer completaram a educação básica. O estudo mostra que as taxas de abandono escolar motivada pela necessidade de trabalhar são maiores nas regiões Sul (48,3%) e Centro-Oeste (43,1%) e menores no Nordeste (34,1%). Destaca-se a raça como característica da maioria dos jovens que deixaram a escola nessa faixa etária: 71,7% eram pretos ou pardos e 27,3% eram brancos.
Entre os homens, que representam 58% dos jovens nessa situação, a necessidade de trabalhar foi a razão apontada por metade para terem abandonado os estudos ou por nunca terem frequentado a escola. A segunda principal razão, no mesmo grupo, foi a falta de interesse (33%). As causas de abandono das mulheres jovens estão distribuídas entre: falta de interesse (24,1%), necessidade de trabalhar e gravidez (ambas com 23,8%) e afazeres domésticos (11,5%).
Está claro que muitos jovens em idade escolar, com renda insuficiente para que se dediquem exclusivamente aos estudos, veem-se obrigados a buscar um trabalho para garantir o necessário, o imediato. Nesse sentido, o aumento da evasão escolar deve ser uma das tantas e tristes consequências da pandemia.
Considerando também o alto índice de abandono motivado por falta de interesse, a infraestrutura é fator determinante na educação, sobretudo quando deve ser reformulada para promover o ensino à distância. Ainda segundo o IBGE², 20,9% dos domicílios do país não têm acesso à internet. Evidentemente, a conectividade cumpre a lógica da renda.
A evasão escolar tem impacto direto na expectativa de vida dos jovens brasileiros. De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Roberto Marinho em parceria com o Insper, adolescentes que abandonam a escola vivem, em média, quatro anos menos. O prejuízo econômico é outra das “Consequências da violação do direito à educação”³ indicadas pelo estudo, que estima em R$ 214 bilhões a perda anual que o país pode sofrer por deixar 17,5% dos jovens sem concluir o ensino médio.
Para que o Brasil avance em termos de educação, buscar medidas para conter o abandono escolar é imperativo. A aprovação da PEC do novo Fundeb (PEC 15/2015) ontem (21), na Câmara dos Deputados, representa apenas um dos eixos de trabalho para melhorias urgentes na educação: o do investimento. O texto aumenta a participação da União no financiamento da educação básica e torna o fundo permanente. Agora, cabe aos parlamentares e ao governo conduzir o debate sobre a educação do país de forma transversal, sem ignorar a relação inerente entre escolaridade e renda.
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¹ Pnad Contínua. IBGE, 2020. Divulgação anual:
,,https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.pdf
² Agência IBGE, 2020:
³ Consequências da violação do direito à educação. Fundação Roberto Marinho e Insper, 2020. Divulgação O Globo:
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Naiara Marques de Albuquerque
Integrante da Metapolítica, mestre em Comunicação Institucional e Política pela Universidade de Servilha (Espanha), jornalista pela UnB