Muito se fala sobre a falta de propostas dos dois candidatos que estão à frente nas pesquisas eleitorais. Se de um lado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tem apresentado sequer um esboço do que poderia ser o seu plano de governo, do outro, o atual mandatário do país, o presidente Jair Bolsonaro (PL), tampouco demonstrou quais serão as diretrizes de um eventual segundo mandato.
Apesar disso, os dois seguem isolados na liderança das pesquisas de intenção de voto, sem que qualquer outro candidato consiga se aproximar deles. Mas o que faz com que a preferência da maior parte da população se concentre em Lula e Bolsonaro?
São várias as hipóteses que podem explicar este fenômeno, no entanto, vamos seguir uma linha de pensamento que leve em consideração a sociedade brasileira, tendo como base uma visão ampliada do comportamento dos eleitores, em outras palavras, partindo de uma visão holística do Brasil para analisar o voto da população.
Inicialmente, para entender melhor como pensa o eleitor médio brasileiro, ou a maioria dos votantes nas eleições, é importante notar como tem sido a construção da imagem dos presidentes eleitos desde a redemocratização.
Desde Collor (primeiro presidente eleito por voto direto na Nova República), todos os presidentes tiveram as suas respectivas imagens trabalhadas nacionalmente, isto quer dizer que eram bastante conhecidos pela população, como consequência, seus nomes apareciam na primeira ou nas primeiras posições nas intenções de voto em todas as regiões do país.
Isto não é diferente com os atuais líderes das pesquisas eleitorais, ainda mais por estarmos falando de uma eleição atípica, uma vez que os dois candidatos se tratam do atual presidente e um ex-presidente, portanto, ambos já possuem a imagem amplamente construída em todo o território nacional.
Para se ter noção de como isto funciona, ao recorrer às pesquisas mais detalhadas, as quais trabalham com diferentes indicadores que quantificam as preferências dos eleitores de modo minucioso, e buscar os dados referentes ao percentual dos eleitores que conhecem cada candidato, percebe-se que tanto Lula quanto Bolsonaro são conhecidos praticamente pela totalidade do eleitorado, enquanto os demais candidatos são mais conhecidos em certas regiões e em outras menos.
A construção de uma imagem nacional não tem a ver só com o marketing das campanhas, mas também tem relação com a elaboração das narrativas de cada candidato. Os mais populares utilizam-se de narrativas que possuem fácil aderência entre os eleitores, isto é, eles embasam as suas campanhas em discursos que repercutem no dia a dia da população.
É comum a tentativa de simplificação de questões complexas para que as ideias tenham maior trânsito pela sociedade. No tocante a este quesito, ambos os líderes das pesquisas conseguem construir narrativas de boa aderência popular, cada um a seu modo.
Dito isto, o contrário também pode ser notado. Os candidatos da terceira via não possuem a mesma capacidade de desenvolver tais tipos de narrativas. Mais do que isto, existe neste grupo a dificuldade de definir qualquer tipo de intenção ou meta que possa guiar a nação. Além disso, para os integrantes da terceira via também falta capacidade de organização, pois o eleitor ainda não sabe ao certo quem serão realmente os candidatos, visto que, a todo tempo, candidatos saem da disputa, ao passo que outros passam a integrá-la.
Se Lula e Bolsonaro não possuem planos de governo, a terceira via ainda nem decidiu se fará uma candidatura única ou se cada integrante do grupo seguirá sozinho.
Historiador e Cientista Político pela Universidade de Brasília (UnB).