Um assunto que tem estado muito em evidência nos últimos tempos no cenário político internacional é o populismo. Mas o que é o populismo? Como ele se aplica ao caso específico do Brasil?
O termo populismo já traz consigo uma visível conotação pejorativa e de forte tendência generalista. Ele diz respeito a atuação do mandatário de dado país, que se propõe a governar para um dito “povo” e satisfazer as vontades deste. No primeiro momento, aparenta ser algo positivo, pois é importante saber quais são as necessidades da população e, assim, traçar estratégias que visem supri-las. Mas o fato é que o populismo não funciona bem assim.
Aqui vai uma provocação: como se sabe exatamente o que o povo precisa? Mais do que isto, a quem estamos nos referindo quando falamos “o povo”? Parece ser um tanto quanto arbitrário definir quem é o povo e qual é a sua vontade. Realmente é! Pois, quando o populista determina a quem está se referindo quando fala do “povo” e quais são os preceitos os quais este deve seguir, de certa maneira ele exerce o domínio sobre àquelas pessoas, de modo a refletir os seus próprios interesses nos interesses do grupo para o qual fala.
O populista, geralmente, é um orador inspirador e cativante. Segundo Max Weber, enquadra-se no tipo sociológico do líder que exerce a autoridade carismática, ou seja, lidera justamente por fascinar quem o escuta. Ele possui o poder de convencer e atrair muitos seguidores. Estes são persuadidos a advogar em favor das ideias do seu líder e se sentem pertencentes a algo maior, ao “povo”.
Normalmente, nos regimes populistas, o “povo” liderado pelo populista não está só naquele país. Ele rivaliza com um ou mais grupos, considerados como inimigos pelo seu líder. A ideia aqui é o populista tentar manter seu grupo unido e sob o seu poder, ao apontar adversários a serem combatidos e guerras a serem travadas, afinal, o que é melhor do que um inimigo em comum para manter os semelhantes juntos?
A simplificação de problemas complexos também é uma marca registrada dos governos populistas. Problemas que precisam ser amplamente estudados e debatidos ganham soluções simplórias e imediatas. Esta é uma maneira muito eficaz de controlar a massa, visto que os populistas entregam respostas fáceis e de simples assimilação para adversidades que existem há muitos anos e nunca foram solucionadas.
O Brasil, assim como outros países, é solo fértil para ideias populistas. Isto ocorre, entre outros motivos, pelo baixo grau de entendimento dos problemas sociais por parte significativa da população. Problemas que devem ser observados a fundo e levando em consideração toda a sua complexidade, mas que normalmente são vistos de forma superficial.
O intuito deste artigo não é apresentar nomes ou dar exemplos de governos populistas, mas fazer como que o leitor possa ter elementos que lhe proporcionem a possibilidade de refletir sobre as realidades de vários locais, incluindo o Brasil e, assim, perceber por si se o populismo se enquadra ou não no cenário analisado por ele.
O fato é, deve-se ter cuidado com o populismo, pois a simplificação dos problemas pode fazer com que eles perdurem, ainda mais quando são estes problemas que mantêm a população à mercê de líderes populistas.
Referências:
ARISTÓTELES, Ética à Nicômacos. Brasília: Editora UnB, 2011.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva – volume 2. 4. ed. ed. Brasília: UnB, 2012. v. 2.
Historiador e Cientista Político pela Universidade de Brasília (UnB).