Atualmente, o mundo tem vivido um período de intensa adversidade. Com as incertezas sobre o fim da pandemia da Covid-19, o desfecho da guerra na Ucrânia e a capacidade de recuperação das economias, os chefes de Estado têm de tomar decisões difíceis sobre qual rumo seus países deverão seguir. É neste contexto que ocorre a próxima Cúpula das Américas.
Mas o que é a Cúpula das Américas?
Trata-se de uma conferência que reúne os países do Continente Americano, com o objetivo de debater entre eles soluções para problemas relativos ao plano econômico, tendo como meta a cooperação entre todas as partes.
A primeira Cúpula das Américas ocorreu em 1994, em Miami, Estados Unidos. O país anfitrião convocou os demais países da América para discutirem a implementação de uma área de livre comércio, a qual ficou conhecida como Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).
A ALCA daria início a uma política econômica de comércio entre os países americanos em que fossem extintas as barreiras comerciais. Neste caso, seria permitida a livre circulação de mercadorias de todos os integrantes da área, o que foi bastante criticado à época, principalmente pelos países menos industrializados, que dificilmente poderiam produzir bens tão competitivos quanto os dos mais industrializados, em especial, os Estados Unidos.
Outro ponto que gerou certa controvérsia foi o impedimento da adesão de Cuba à ALCA, tendo em vista que os Estados Unidos haviam imposto uma série de embargos econômicos ao país desde o período da Guerra Fria.
As reuniões da Cúpula têm ocorrido de maneira regular, em intervalos de dois a três anos, porém vem perdendo prestígio entre os integrantes por vários motivos, entre eles, o declínio da influência norte-americana no continente e o crescimento das relações comerciais com outros países, principalmente a China, que, recentemente, tem sido um dos maiores parceiros comerciais dos países emergentes.
O que se espera da próxima Cúpula das Américas?
A Cúpula das Américas de 2022 está marcada para ocorrer em Los Angeles, Estados Unidos, do dia 6 de junho até o dia 10 do mesmo mês. Entre os assuntos que deverão ser discutidos estão: a retomada da economia dos países americanos no pós-pandemia, a desigualdade econômica e a imigração.
Tendo em vista o declínio da influência política e econômica dos Estados Unidos no Continente Americano, conforme foi citado anteriormente, as relações de poder parecem ter uma configuração um pouco diferente do que se tinha em 1994.
A Cúpula anterior (2018) não contou com a participação dos próprios Estados Unidos, em razão da política internacional implementada pelo presidente anterior do país, Donald Trump. No entendimento do ex-presidente, os interesses norte-americanos deveriam estar sempre à frente dos de outros países, o que foi também conhecido como America First.
Tal política prejudica o ambiente de cooperação entre os países americanos sob a liderança dos Estados Unidos. Neste sentido, as demais nações têm buscado estreitar relações multilaterais, envolvendo países que antes não faziam comércio entre si. Deste modo, os EUA vêm perdendo protagonismo no continente e, portanto, poder de influência.
A nova administração dos Estados Unidos, liderada pelo presidente Joe Biden, tem a pretensão de retomar a política cooperativa entre os países do Continente Americano, entretanto, não será uma tarefa fácil. Com a perda de influência nas Américas, os outros países ampliaram o seu poder de decisão.
É por este motivo que muitos países têm anunciado a possibilidade de boicotar o evento, caso as suas reivindicações não sejam aprovadas. Entre elas está a retomada de diálogo com países ditos antidemocráticos, como Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Para os países que fazem esta reivindicação, a exclusão de Estados antidemocráticos de canais de comunicação internacionais não tem gerado o efeito desejado, que é trazê-los ao eixo democrático por meio de embargos econômicos. As nações que fazem as exigências entendem que a ampliação do diálogo é a melhor forma de consolidar os valores democráticos no continente.
Os EUA ainda se mostram muito resistentes às reivindicações, mas analistas entendem que o país terá de ceder, pelo menos em parte, para não perder ainda mais poder de influência na região. O Brasil ainda não confirmou a participação na reunião e a resistência é motivada, entre outras coisas, à falta de alinhamento político entre o país e os EUA. Desde a saída de Donald Trump e à eleição de Joe Biden, a relação entre as nações ficou um pouco conturbada.
De qualquer maneira, é necessário observar a repercussão destes eventos e notar como isto irá se refletir na realização do evento em junho deste ano.
Historiador e cientista político pela Universidade de Brasília (UnB).